domingo, 8 de julho de 2018

Talvez fosse só fome, mas a tristeza era tão grande que não queria ir até à cozinha.  Talvez se dormisse melhorasse, mas a dor na alma não a deixava descansar.
Queria poder falar, sentia-se só. As coisas aconteciam e parecia que seu tempo era outro.
Tentou falar. Chorou. Mas estava bêbada e ninguém a ouviu. As lágrimas desceram. O pranto secou. A vontade de ir embora só aumentava. Se sentia uma fracassada. Fraca. Inútil. Não tinha muito mesmo com o que contribuir no mundo.
Via tudo se desmoronando a sua volta. Cansada. Exausta. Queria ir.
Via perdendo sua filha. Chorava. Sua luta em nada resultava. Sensação de ter que pensar em tudo sozinha. Não sabia mais o que era o certo. Parecia que tudo era falso.
Sabia que lhe doiria, mas que acabaria por, mais uma vez fazer as vontades do pai da criança. Não tem, nunca teve e nunca terá forças para lutar contra ele. Ele sempre vence. Sempre.
Não queria mais ver ninguém.
Somente mesmo ir trabalhar. Era o que lhe restava. Precisava ganhar aquele dinheiro para pagar as dívidas.
Comprou um sapato. Vai faltar no fim do mês.
Há anos não comprava um sapato.
Já está no cheque especial e nem começou a pagar as contas.
Parar de sair. Não pode mais.
Melhor assim.
As pessoas são felizes e têm a vida com amigos.
As pessoas têm em quem confiar.
As pessoas conversam.
Ela não.

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